Antes, um preâmbulo! Essa foto aí é de 1.931. É um ano
que antecede as eleições de 1.932 para presidente da República. Era a época de
Getúlio Vargas. Nesse dia foi inaugurado
o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. No
mesmo dia, 12 de outubro, no mesmo ano em que Getúlio consagrou Nossa Senhora
Aparecida como padroeira do Brasil. Significava, para muitos, o desrespeito político
do Estado ao compromisso da laicidade do país. Mas grande maioria da igreja
Católica aprovou e até fez reivindicações, algumas, como o casamento religioso
com efeito civil , foram contempladas na Constituição de 1.934. Getúlio, criador do getulismo, como se sabe, utilizou a religião para efeito
de dominação. O Estado precisava manter seu espírito cristão e Getúlio ser
visto como um paizão. Vargas, apesar das conquistas trabalhistas, dos direitos
da mulher, da criação da indústria brasileira, foi um dos maiores tiranos da história
política recente do país. Por aqui, se
cumprido o cronograma, teremos o nosso Cristo Redentor no próximo mês, sete meses
antes das eleições e, certamente, a
analisar-se os fatos, não é inverossímil observar-se mais semelhanças que diferenças
entre getulismo e siqueirismo, ainda que separados por 83 anos.
Senão vejamos. Sempre em períodos eleitorais, os siqueiristas dão a impressão de que não
mudam a sua natureza. Como se não tivessem comando do seu pensamento, enxergam sempre
nos outros o seu reflexo. É aquela história de projetar no outro o que se têm
de essência. Evidentemente que existem siqueiristas fantásticos, democratas por
excelência, de boa índole, com quem
divirjo e convirjo em muitos aspectos. Tudo de modo civilizado, afinal o
siqueirismo brotou e foi forjado na figura de um líder político que, como qualquer
um, tem erros e acertos, uma das vias (grande mérito) para a criação do próprio
Estado e não a única. Incensá-lo,
talvez, seja o caminho mais curto para transformá-lo num déspota.
Um artigo que fiz ontem (veja posts abaixo), comentando uma
opinião da jornalista Roberta Tum (T1 Notícias)- que denunciava grampos - provocou nos siqueiristas mais exaltados uma
reação, especialmente nas redes sociais. Não à mensagem e sim ao meio. Foram
reações pontuais contra a grande maioria dos leitores que observaram ser o
artigo pertinente, diante dos fatos que insistem em provocá-lo e da gravidade
do que representa. Os siqueiristas, entretanto, enxergam no blog as mãos de
outra pessoa. Deixam de lado que, ainda que fosse assim, permanecia imutável o
fato criminoso, o anti-democrático grampo em jornalistas e adversários do
Palácio.
O texto, na verdade, sequer
acusava o governo dos grampos. Raciocinava, isto sim, que, se eles ao Palácio
beneficiavam e não havia resistência por parte da Praça dos Girassóis ao método
de vigilância ilegal empregado, por dedução estaria presente, sim, uma
intersecção, que, de involuntária, se transformava em produto de uma vontade já que a omissão é, também, em essência, uma
ação!!! Ou estou enganado?
Ora, cada um tem a
sua preferência, é da democracia. Ocorre que para a grande maioria dos
siqueiristas, a virtude absoluta, a verdade, estaria
no siqueirismo. Um pensamento contrário seria, portanto, resultado do vício,
característica de um adversário a ser combatido. De forma que, não tendo argumentos para enfrentar uma
verdade, tenta-se revogá-la pela
desqualificação do meio. Assim, qualquer adversário seria um vício a ser
eliminado, seguindo uma moral e uma ética próprias, criada pelo siqueirismo e
assimilada pelos siqueiristas, seus seguidores.
Essa natureza do siqueirismo é a mesma presente no
getulismo, lulismo, queremismo, nazismo, stalinismo ou outros ismos da história. Olha a história aí a nos cutucar!!!! São mais representantes de sentimentos movidos a paixões e, por tal,
passionais, personalíssimos, que levados por componentes ideológicos ou mesmo
partidários, fundados no racional. Como
funcionam mais na emoção que razão terminam por endossar práticas despóticas sem se darem conta de que se já são vítimas
subjetivas da alienação podem se
transformar, consequentemente, em objeto
das ações que sustentam às cegas.
Daí que para o siqueirista (ainda que seja um modo democrático), o objeto do seu querer é a coisa
em si, carrega a verdade absoluta. O problema surge porque essa democracia não teria mão dupla. Apenas uma via única: o pensamento dominante. No caso da inversão de valores sobre meio e
mensagem que abordei ontem, terminam, os siqueiristas mais reacionários, na verdade, por
emprestar mais vigor ao blog. Ora, neste espaço, em 2010, quando criei o blog, eu era criticado pelos
modebas por dar meus pitacos naquelas peraltices do ex-governador Carlos
Gaguim. Os modebas me criticaram também quando defendi, já neste governo, a privatização do sistema
de saúde. E me aplaudiram quando neste mesmo governo (em 2011) critiquei a forma de
contratação da Pro-Saúde e denunciei o nepotismo na Secretaria de Saúde (2012). E o
que falar das análises sobre a possibilidade de Marcelo Miranda ser candidato?
Aliás, quem primeiro defendeu o direito de Eduardo Siqueira Campos ser
candidato ao governo foi este blog (2011), quando o ex-secretário era estigmatizado
por uma rejeição assustadora, proveniente, certamente, mais da forma como faz política do que pelo
conteúdo ideológico de que é portador.
Quando denunciava a situação do HGP no governo Carlos
Gaguim, a falta de remédios, especialmente para os pacientes de leucemia que eu enfrentava pessoalmente, os siqueiristas eram só aplausos, mas se irritam agora quando
escrevo sobre a atual situação do HGP e a irresponsabilidade como é tratada a
saúde pública no Estado. Tudo muito normal, a maioria dos meus leitores são
leitores assíduos muito antes deste blog
, em outros meios, e conhecem perfeitamente a linha de raciocínio. Entre as
reações, uma grande diferença: os peemedebistas,
entretanto, não utilizavam fakes em redes sociais disparando-me baterias e impropérios pessoais, tampouco grampearam meus
telefones. No fundo, essa paixão que move determinados siqueiristas, não observa o pensamento como algo móvel e autônomo, mais dificil de ser enfrentado, por necessitar de fundamentos empíricos ou fundamentados no racionalismo. Aspiram um alvo estático, como sua própria natureza autoritária. Se não coadunar-se com sua paixão, elimina-se, não importa como, o ofensor ou o ofendido, opressor ou oprimido, indistintamente, porque o que os move é a paixão, que, como tal, é irracional. Como se deslocava o getulismo há oito décadas como bem é prova a morte do Major Rubem Vaz e o suicídio do próprio Vargas.