Marcelo Miranda deve entregar o cargo nesta terça. É melhor para ele e para a população que seja o mais rápido possível o cumprimento da decisão judicial. Menos traumático. A segunda cassação em nove anos, retirado do mesmo cargo e no mesmo partido. O Governador se não fosse interceptado pelo TSE pelos motivos de que foi acusada sua chapa (e que enxergo uma aberração jurídica da forma como foi feito), deveria sê-lo, a priori, pelo conjunto da obra. Idêntica tanto lá como cá o que sugere um método.

A não resistência (ou desconhecimento) de Marcelo das graves inconsistências (e ilegalidades) de muitas medidas de seus governos não o eximiria da responsabilidade que de fato teria. Caso contrário, deveria ser retirado do governo por deixar correr frouxo, claudicante, ainda que se tomasse de boa fé que ignorasse as entranhas das decisões de sua administração. Algo inescapável afinal, em larga medida, em muitas das decisões administrativas sequer se dava à preocupação de emprestar-lhes alguma roupagem de legalidade e legitimidade.

Teve avanços, evidentemente. Mas eles ficaram encoberto pela avaliação de leniência e, certo modo, condescendência (quando não impulsionadas por ele mesmo) com decisões indiscutivelmente prejudiciais ao poder público que Marcelo deixava transparecer como resultado de compreensão democrática. Não era. Isto porque o efeito gerava prejuízos ao sistema e, por consequência direta, à população, usurpando a democracia.

Um exemplo muito nítido disso foi a decisão de promover PMs no final de semana. Uma decisão de Marcelo Miranda, como já o fora todas as decisões que tomara em favor da Corporaçâo em todos os seus governos, em detrimento das outras categorias. Algo pessoal e sem critério técnico. Marcelo estaria sendo bonzinho com a PM e, evidentemente,  fazendo o mal com os demais servidores (e com a administração perdulária que já consome 54,9% das receitas com salários), merecedores, por lei, de igual preocupação governamental que se mostrou absurdamente discricionária.

Um jogo com o bem e o mal. Afinal, para o senso comum não poderia ser mal, o governo, quando estivesse fazendo o bem aos PMS. Essa estratégia Marcelo fez em todos os seus governos. Não só com a PM e promoções ou salários. Mas em ações diárias na Administração, sempre mostrando-se bonzinho para um setor o que encobria o mal que tais decisões levavam a outros. Quer ver: fecha o governo com 20 mil contratos comissionados (contratação direta e comissionados) e não contrata concursados. Ou os contrata a conta-gotas.

Marcelo levou o seu governo literalmente na flauta quando tentava dar-lhe rosto sereno, solene, altivo e preocupado, ignorando a representação popular que, em absoluto, não lhe concedeu procuração para terceirizar o seu governo. Nos últimos três anos (no governo anterior foi da mesma forma) o seu governo foi dividido informalmente. E isto o levou a ter problemas com o seu orientador até então, o ex-secretário e ex-deputado Brito Miranda.

Tinha o grupo de Goiânia (do marqueteiro e cia), o grupo da primeira dama, Dulce Miranda, o grupo do formulador político mais experiente, Brito Miranda e o grupo da ralé, aquele formado por militantes do MDB que, próximo de Marcelo, também tinha o seu butin por estar ao lado do Governador na alegria e na tristeza, o pessoal do “círculo da cura” da primeira cassaçao. Alguns chegaram a ser secretários sem influencia.

De forma que ficaram três grupos disputando: o de Goiania, o da primeira dama e o do pai. Faltava, lógico, o grupo do eleitor. Brito, experiente, descobriu isto e desapareceu de cena, só retornaria este ano, dada a sua importância no processo eleitoral. E aí ficaram dois grupos na maior parte dos três anos de governo: o de Goiânia e o da primeira dama, que mandava e desmandava no governo. Marcelo ficara entre estes dois grupos, tentando acomodar crises que evidentemente o enfretamentos dos dois grupos e dos seus interesses gerava.

Não é segredo que o pessoal do marketing determinava as ações de governo. Secretários eram chamados a Brasília e Goiânia para reuniões de governo com marqueteiros e não conseguiam disfarçar o constrangimento. Tudo isto aí com o aval (ou condescendência) de Marcelo.  Assim como é pública a disputa com Dulce Miranda, a agressividade com que fazia uso do governo para tomar colégios eleitorais de correligionários e adversários indistintamente, contratando pessoas Estado afora, em nome da representação do marido, de forma que hoje já se projeta em disputar o governo. Com que roupa? Com os contratos comissionados que impôs ao contribuinte.

O resultado é que em três anos e R$ 30 bilhões de orçamento público depois, Marcelo não pode mostrar nada além do caos na saúde, da buraqueira nas estradas, dos passivos do Igeprev, consignados, Plansaúde e fornecedores. E sair do governo acusado de caixa dois em que o Superior Tribunal de Justiça não viu provas para condená-lo. O TSE,sim. Mas lá estava o irmão na cena do suposto crime, fazendo o mal, pagando despesas do acusado como criminoso com cartão, quando Marcelo estaria, por aqui, fazendo só o bem.

E o pior é que, daqui a oito anos, Marcelo pode querer retomar sua carreira política (é muito novo e ainda tem muito futuro pela frente). Assim como é possível deduzir que poderá lá, como cá, acercar-se dos mesmos projetos que o levaram a cassação por duas vezes, um caso inédito na história do país. Só mesmo de lobeira lá em Guapó. Ainda tem tempo para escrever uma nova e mais relevante história.

Deixe seu comentário:

Dando continuidade às vistorias nas unidades de saúde pública de Palmas, nesta quarta-feira, 19, promotores de Justiça e servidores do Ministério Público do Tocantins, aco...

As unidades do Judiciário de Araguaína estão em fase de mudança para o novo Fórum da cidade, mas algumas já iniciaram suas atividades. A Vara de Violência Doméstica, o Jui...

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, finalizou mais um curso para os funcionários da fazenda Dois Rios em Lagoa da confusão. Dessa vez a instrutora do SENAR Adeuma Bo...