Assuntos do dia: a estréia da novela O outro lado do paraíso, com algumas cenas gravadas no Jalapão e em Palmas e o suicídio de uma estudante de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins. Uma tragédia cujos desdobramentos assumem ares de catarse.

Coisas completamente distintas: de um lado o vigor da vida, de outro o escuro da morte de uma jovem com tanto vigor. Um sentimento que atinge a todos indistintamente. Talvez mais pela forma que pelo resultado. Morrem jovens e velhos todas as horas do dia por força da finitude da vida.

Liga-os, os assuntos, a forma como são tratados, especialmente nas redes sociais: empoderamento, hoje uma tábua para qualquer situação a que devemos resistir. Ou ultrapassar.

É como se as dificuldades do dia-a-dia não atingissem a maioria das pessoas, independente de raça, cor ou classe social. Uns mais, outros menos. E tivéssemos, para tudo, uma resposta social e politicamente correta, produto de nossos dias. Empoderados seríamos mais gente.

Quando o memorialista Pedro Nava, um dos maiores do país, no auge do reconhecimento de seu trabalho, suicidou-se aos 80 anos (há mais de três décadas) indaguei-me o que faria uma pessoa, com esse perfil, decidir resolver-se. Nava tinha mais passado que futuro. Não se falava em empoderamento. Descobriu-se, após sua morte, que Nava era homossexual e deu um tiro na própria cabeça num banco de praça no Rio. Havia versão de que estaria sendo chantageado por um garoto de programa. Decidiu decidir-se. Não se pode dizer, nos dias de hoje, que não fosse um empoderado.

Quando outro grande amigo, um jornalista que trabalhava comigo, decidiu, no início dos anos 90, pular do alto de um prédio em Goiânia por problemas amorosos com o seu companheiro também homossexual (que conseguiu agarrar-se e não cair no vazio com ele) me batia com um conflito: haveria um pacto pela morte e um dos parceiros decidira-se por não seguir (e aí teria sido covarde com o companheiro) ou um deles, na dificuldade de manter o relacionamento, quereria, de forma egoísta, resolver-se e aos dois, pondo fim à história.

Em ambas as situações, estava presente a vontade da pessoa em decidir-se. Por um motivo ou outro, impulsionado por uma questão ou outra. Haveria, talvez, alternativas à morte, um apoio psicológico, afetos. O mesmo que poderia ter ocorrido com a jovem estudante de jornalismo que, dissemina-se, de forma mais realçada, fosse empoderada, como se sua decisão de decidir-se fosse causa ou efeito do próprio resultado obtido, talvez levada por problemas depressivos. Suicidara-se, entretanto, pela vibe, no ambiente do empoderamento.

O mesmo empoderamento (de natureza inversa por tratar-se de vida) que se coloca nas poucas cenas gravadas no Jalapão para a novela da Globo. Dá-se a impressão que a corte decidira olhar para a colônia. A Globo usa praticamente todos os dias cenas nas ruas de São Paulo ou Rio de Janeiro. E não se vê paulistanos ou cariocas considerando isto como um empoderamento de suas cidades e de suas vidas. Por aqui, agarra-se ao fato como um reconhecimento de nossas belezas que existem independente disso. Nosso empoderamento. Na verdade, a região foi explorada como uma colônia. E está sendo tratada como colônia não só pelos colonizadores, mas também pelos colonizados.

Da mesma forma que tentam nos colonizar com o empoderamento. Meu pai, que criou e deu estudo a sete filhos com a colher de pedreiro nunca nos passou esse negócio de que nossas dificuldades diárias de sobrevivência teriam fim com o empoderamento, essa palavra mágica. A morte, ainda que inexorável, entretanto, é sempre uma perda para os vivos. E não há empoderamento que a elimine.

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