É aterrador
imaginar-se possível que agentes políticos do Palácio Araguaia tenham iniciado um
processo criminoso de escutas telefônicas ilegais de adversários políticos e de
jornalistas. Não é, entretanto, inverossímel
que o governo esteja fazendo uso de uma polícia política, com métodos que se
assemelham aos praticadas durante a pior fase do regime militar.
Merece, com feito,
reflexão, o artigo de hoje da jornalista Roberta Tum, no T1 Notícias, expondo
fundadas suspeitas de espionagem de
cidadãos (especialmente jornalistas e
políticos) por parte de agentes públicos, pagos com recursos do contribuinte,
que revelam, em parte, a escuridão em que se mete a política palaciana.
A ação tenciona estabelecer o medo e com ele a chantagem, como já denunciaram prefeitos oposicionistas em processos que tramitam no Tribunal Regional Eleitoral. Aliás, o método é recorrente não só neste governo, no esforço de manter-se e a seu projeto de poder, nem que para tanto esteja a solapar a democracia, desrespeitando as leis e impondo aos indíviduos um estado de vigilância permanente, um estado que não reconhece os limites de sua autoridade a exemplo dos regimes totalitários que a história é pródiga em registros.
No caso específico da pressão velada sobre os jornalistas, o governo não esconde, em absoluto, a sua característica mais próxima da tirania que de democracia. Os exemplos disto são diários, quando todas as expressões de opinião necessitam ser submetidas à alçada de governo. Caso contrário, são encaixados no espaço de manobra que as administrações têm para enquadrar expressões de pensamento como atos delituosos. É quando se utiliza do arbítrio da autoridade política contra a expressão de verdades necessárias.
Nota-se o recrudescimento dessa forma rasteira de política quando percebe-se, a oito meses das eleições, a utilização das escutas combinadas, como se suspeita, somada à distribuição de panfletos apócrifos contra adversários políticos do Palácio, como ocorreu ontem no velório do ex-prefeito Clayton Maia. São casos que, em condições normais, deveriam ser investigados com o maior rigor, placas dos veículos foram anotadas, já se tem o nome do responsável, mas não se apura. Como são ações direcionadas a adversários políticos do governo, tem-se o beneficiado e com ele a suspeita dos autores intelectuais do ato.
É de escuridão que se fala. Métodos não republicanos como se vivêssemos numa republiqueta de bananas. Um desrespeito às liberdades e à democracia, no que demonstra o grau do zelo que se tem pela população da qual são meros depositários de uma confiança já não existente. Grampear jornalistas e adversários, como se suspeita, com instrumentos de Estado, já é o fim.