Mereceria, por certo, reflexão por parte da população, classe política e instituições sobre as causas que levaram o Estado à situação de extrema miséria da maioria de seus habitantes contra a intensa concentração de renda nas mãos de uma minoria, especialmente políticos, como registra o IBGE.
Poder-se-ia tomar como ponto de partida o poder público, responsável com os recursos que injeta no mercado (obras/pagamentos de prestadores de serviços/fornecedores/salários) grande parte do dinheiro em circulação que irriga a economia na mesma medida em que engorda, de forma por vezes ilegítima, contas bancárias de poucos privilegiados.
E quando se vê, hoje, a situação financeira do Rio de Janeiro, por exemplo, com governantes de 1.999 a 2014 presos (Sérgio Cabral, Rosinha Garotinho e Anthony Garotinho), junto com o presidente da Assembléia (de 1.995 a 2017) também encarcerado - os três últimos presidentes do Legislativo estão presos - por supostos desvios da mesma natureza que os investigados no Tocantins, não há como deixar de estabelecer relação entre causa e efeito no Estado. Ainda que se tenha em mente que prisão ou condenação não é algo a se desejar nem ao pior inimigo. O problema é que a não punição impulsiona a manutenção dos esquemas, como é notório.
Se no Rio de Janeiro o esquema de Sérgio Cabral teria desviado o equivalente a R$ 3 bilhões, no Tocantins essa cifra ultrapassaria a estonteantes R$ 6,5 bilhões em duas décadas, somando-se os valores investigados pela Polícia Federal/Ministério Público Federal/Justiça Federal/Denasus/MPE/Controladoria Geral da União.
São R$ 466 milhões (ponte FHC/MPE), R$ 200 milhões (Operação Ápia/Asfalto/MPF/PF), R$ 200 milhões (Operação Rei do Gado/MPF/PF), R$ 543 milhões (pontes/Rivoli/MPF/MPE/PF), R$ 1,2 bilhões (Operação Miquéias/Igeprev/ MPF/MPE/PF), R$ 4 bilhões (Operação Pronto Socorro/Saúde/MPF/Denasus), R$ 1,2 milhões (estradas assentamentos) e agora os cerca de R$ 8 milhões da Marcapasso (PF/MPF).
Se no Rio de Janeiro a autoridade política (de 95 a 2017) está na cadeia, por aqui dos cinco governadores que o Estado elegeu em 29 anos de criação (no período dessa roubalheira investigada), apenas um não é investigado pela Justiça: Moisés Avelino. Os demais ou já foram presos, levados em condução coercitiva, réus por acusações de desvios de recursos públicos e estão, até hoje, sem condenação e sem devolver o dinheiro da população de um Estado onde 150 mil (conforme o IBGE) sobrevivem com R$ 90,00/mês.
O resultado está aí: o Estado tem um orçamento de R$ 11 bilhões e não tem recursos para pagar fornecedores, prestadores de serviço, salários, UTIs, roupa de cama de hospital, medicamentos, aluguéis atrasados, apropria-se de recursos dos servidores (consignados/Igeprev), tem uma dívida consolidada elevada (e que aumentou para R$ 3,7 bilhões com empréstimos para lama asfáltica), deve R$ 1 bilhão de passivo a funcionários e prevê fechar o exercício com um déficit de R$ 640 milhões.
É um dia cobrindo o outro. Só que a pobreza e a população não estacionam no dia. A grana tem o over nigth.