Os professores de Palmas encerraram a greve antes de completar o 23° dia de paralisação (decisão de ontem a noite). De sete que iniciaram uma greve de fome há uma semana, dois deles resistiram sem comer por seis dias. Um terço do que ficou Mahatma Gandhi na resistência pacífica à opressão britânica na Índia. Ou 144 horas com apenas água.
É provável que começassem, não encerrado o movimento, apresentar capacidade cognitiva reduzida, hipotermia, problemas nos rins, fígado e disritmia. Um óbito - possibilidade concreta - certamente seria atribuído ao poder público. Ainda que fosse uma decisão voluntária.
Se o temor da morte que possui todo ser humano é o reverso da vontade de vida, não temê-la seria, por razão necessária, não querer viver. Os professores em greve de fome, entretanto, o fizeram pela vida ainda que estivessem sujeitos a provocar-lhe justamente o contrário: sua perda.
Sujeitar-se à morte por uma causa lhe dá dimensão superior. A causa e causado maiores que causador. Uma situação, a priori, de difícil administração e compreensão afinal como enfrentar algo disposto a tanto que preferiria sacrificar-se a não tê-lo.
Daí a compaixão que a população já parecia direcionar ao movimento grevista impulsionada, grande parte, pelo ato extremo que, com a serenidade do jejum voluntário e eticamente defensável, conseguiram os grevistas despertar. Ou seja, a greve seria por uma causa que estaria acima de questões salariais.
Fato realçado pela suspensão do movimento sem que o prefeito Carlos Amastha os fizesse, de forma decente, uma proposta oficial concreta. Preferindo fazê-lo por compromissos explicitados à imprensa e às redes sociais, estabelecendo implicitamente uma relação de superioridade e imposição, contrariamente à igualdade das partes na relação trabalhista.
Especialmente no setor público onde servidores são concursados, se apresentaram ao escrutínio público de provas e títulos como determina a Constituição da República. Na educação, formadora de carateres e de consciência, quanto mais grave. Utilizou as redes sociais como porta-voz de suas intenções como se o meio fosse o próprio endereço da mensagem. E não apenas seu portador. No limite, pela práxis aplicada, os professores se assemelhariam aos vagabundos da política pela contrariedade que fazem frente.
A greve se encerra (amanhã, como deliberado na assembleia ontem), entretanto, com perdas políticas consideráveis ao prefeito. Os professores viraram dois jogos: no primeiro, conseguiram a adesão de pais e alunos, os mais prejudicados e que poderiam, em tese, enfraquecê-los. No segundo, não menos relevante, pregaram o ônus da intolerância no prefeito, perdido na sua própria práxis e atingido na forma por força do método empregado, quando no mérito demonstrava interesse em solucionar o conflito sinalizando o atendimento das reivindicações. No popular, perdeu pelo verbo.
Talvez preocupados com a saúde de seus agora mártires em greve de uma semana (a que a administração se mostrou indiferente) os professores sairam, seguramente, mais fortes do que entraram. E o fizeram como se tivessem calculado a hora certa, milimetricamente, sem avançar o limite da tolerância/intolerância, tanto política como administrativa.
Ganham com isto mais apoio da comunidade (pais, alunos, formadores de opinião, população) e demonstram ao poder Judiciário intenções, métodos e formas, significativos no julgamento do mérito da paralisação e, por gravidade, de suas reivindicações. O prefeito fica ainda mais comprometido: se não cumprir o prometido, ainda que à imprensa e não às lideranças dos professores, não o fará simplesmente no limite da categoria. O perímetro aumentará, com desdobramentos diretos no seu projeto político.
Os professores terminaram aplicando o teorema atribuído ao Vladimir Ilyich Ulyanov, o Lenin, da Revolução Russa, quando defendia o capitalismo para implantar o comunismo: deram um passo a trás para dar dois à frente. Algo que Carlos Amastha também poderia ter feito para neutralizar a guerrilha que enxerga contra si. Mas preferiu o método stalinista. Nunca é demais lembrar que Stalin teria mandado matar Lenin, Leon Trotski e outros milhares que se colocaram adversários ao seu projeto político. Caiu como a história registra e o abomina.