Devem carregar alguma lógica ou ter equivalência a um princípio administrativo, os números do governo, confrontados com suas ações.
Depois das denúncias de ontem da recorrente falta de comida para servidores e acompanhantes de pacientes nos hospitais (por falta de cumprimento de prazos acordados de pagamento de fornecedores), os anestesiologistas decidiram-se também por suspender suas atividades.
Motivo: falta de pagamento de uma dívida da ordem de R$ 13 milhões. Desde setembro de 2015 (como vai no Jornal do Tocantins desta terça).
Ou seja: cirurgias eletivas (a não ser de urgência) canceladas de vez nos hospitais públicos. Quem tiver que morrer, que morra é o extrato dessa equação macabra.
Mas vejam o que dizem os números do governo:
EXERCÍCIO DE 2016
Receitas de janeiro a julho de 2016: R$ 4, 677 bilhões
Recursos carimbados para a saúde de janeiro a julho de 2016: R$ 329,2 milhões
Recursos ordinários de janeiro a julho de 2016: R$ 2,6 bilhões
Empenhos (recursos comprometidos) de janeiro a julho: R$ 6,522 bilhões
EXERCÍCIO DE 2015
Receitas de janeiro a julho de 2015: R$ 4,686 bilhões
Recursos carimbados para a saúde de janeiro a julho de 2015: R$ 328,7 milhões
Recursos ordinários de janeiro a julho de 2015: R$ 2,9 bilhões
Empenhos (recursos comprometidos) de janeiro a julho 2015: R$ 5,430 bilhões
EXERCÍCIO DE 2014
Receitas de janeiro a julho de 2014: R$ 4,538 bilhões
Recursos ordinários de janeiro a julho de 2014: R$ 2,6 bilhões
Recursos carimbados para a saúde de janeiro a julho de 2014: R$ 283,9 milhões
Empenhos (recursos comprometidos) de janeiro a julho 2014: R$ 5,8 bilhões.
E então temos:
-As receitas de janeiro a julho de 2016 são 2,2% superiores às receitas de janeiro a julho de 2014 e 0,9% inferiores às receitas de janeiro a julho de 2015.
-As despesas feitas de janeiro a julho de 2016 são 12% superiores às despesas de janeiro a julho de 2014 e 20,11% superiores às despesas feitas no mesmo período de 2015.
-As receitas carimbadas para a saúde (transferências do governo, fora a exigência constitucional) de janeiro a julho de 2016 foram 16% superiores às mesmas receitas de janeiro a julho de 2014. E 0,09% acima das mesmas receitas de 2015.
Como é notório nos números (do Portal das Transparências) as despesas do governo não acompanham as receitas. Ainda que as receitas tenham aumentado de 2014 a 2016, há uma diferença de aceleração entre uma e outra.
A situação exige, como qualquer administrador ou cidadão tem conhecimento, a análise da qualidade do gasto, com o estabelecimento de prioridades. E aí nesse caso, que outra prioridade para o ser humano que não a saúde?
Mas fica a administração nesta embromação: justificando todos os dias com a falta de dinheiro as dificuldades para enfrentar os problemas prioritários da população. As receitas aumentam e não há cortes de gastos. Muito pelo contrário, como demonstram os números em viés acelerado de crescimento.
De outro modo: o governo parece ter optado por politizar a administração pública dando-lhe um caráter de mero resultado de sua vontade política, no que induz ao raciocínio de que também a morte ou vida dos pacientes nos hospitais públicos dependeriam de suas escolhas ou vontades. O que, na prática, é o que ocorre numa leitura sem a necessidade de outras lentes de maior grau.