Leitores entendendo que o blog estaria contra a ponte de Porto Nacional. Ora, como muitos fui daqueles que enfrentou a balsa na travessia do rio. Aliás, a balsa me traz recordações especialmente quando meus pais acompanhavam-me no ônibus da Viação Araguarina até a beira do rio. A balsa era como se fosse a ligação Porto/Goiânia, entre eu (na distante Goiânia) e meus pais. Nas férias escolares, se chegássemos no porto da balsa depois das 20 horas, tínhamos que pernoitar do outro lado vendo as luzes da cidade. Tia Júlia também fechava as portas.

Também como tantos, sonhava com a construção da ponte, nos preenchia os empregados da Sergen nas obras. Nos assustavam as mortes no ar comprimido. A ponte, entretanto, como que sublevava ou até sobrelevava, no nosso consciente, tais perdas de homens que também tinham suas famílias e seus sonhos.  A necessidade de integração econômica com modais de transporte (BR-153) era inferior à sensação de que, com a ponte (e depois o asfaltamento da TO-255 e o domínio da serra) estávamos mais próximos de Brasília ou Goiânia (ainda que muitos tenham preferido Belém/BA).

Como tantos outros, também celebrei naquele dia de chuva a inauguração da ponte em 1.978. Caminhei sobre aquele barranco enlameado e pisei no concreto da travessia. O governador era Irapuan Costa Junior, um engenheiro nomeado pelo regime militar. Depois, senador. Um homem de inteligência rara e que sensibilizou-se com a situação de isolamento da região. Um dia chuvoso mas que abriu um horizonte de sol, não só para a população portuense, mas para toda a margem direita do rio Tocantins.

O problema da ponte cuja ordem de serviço foi assinada ontem pelo governador Marcelo Miranda é de outra ordem. É fiscal, financeiro e administrativo. O governo para bancar tal obra teria que operar de outra forma: cortar gastos que possibilitasse receitas. Coisa que não o fez nem o fará. Pela lei, governo não pode contratar obras (ou licitar) sem orçamento. É o caso. O empréstimo não foi aprovado e o governo (por seus próprios números) não tem recursos próprios. Fechou o segundo quadrimestre com um déficit orçamentário de R$ 236 milhões.

Deve hoje 28% do PIB e 92% de sua receita corrente líquida. Ou seja, tem uma dívida hoje de R$ 6,846 bilhões contra uma RCL de R$ 7,371 bilhões. Ainda que possa dever até R$ 14 bilhões. São R$ 1 bilhão a fornecedores (diferença entre despesa liquidada e despesa paga de janeiro a setembro/2017), R$ 1 bilhão de passivo a servidores, R$ 700 milhões de contribuições não repassadas ao Igeprev, R$ 3,7 bilhões (dívida consolidada já somados os empréstimos Caixa/BB), R$ 296 milhões (empréstimos internacionais em tramitação a contratar/BID/Tocantins Agro e CAF/Prodetur), R$ 80 milhões (Litucera), R$ 70 milhões (Pansaúde). E ainda tem os não repasses dos consignados.

Isto está a indicar que o governo pode iniciar a obra (que não poderia do ponto de vista orçamentário e legal), mas se não mudar a execução orçamentária, não a levará adiante. Como as obras do cinturão de Palmas que estão paralisadas por falta de pagamento. Mas, em ano eleitoral, sempre se poderá dizer que a obra estará sendo construída e quem a botou pra andar.

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