Só não dá uma preguiça raciocinar sobre a nova plantação do Palácio Araguaia, porque se trata de algo bastante sério, por representar uma afronta às instituições e à vontade da população o ardil que se arma a partir de conjecturas sem rosto, mas de portadores facilmente identificáveis.
É o
que se abstrai das possibilidades aventadas por tucanos de dentro do Palácio, como
vai, nesta segunda, 25, no Portal CT, do jornalista Cleber Toledo. Sem qualquer
desfaçatez os tucanos abrem a caixa de pandora: Siqueira pode deixar o governo
para se candidatar ao Senado, o vice renunciaria para que o presidente da
Assembléia assumisse o governo, far-se-ia a eleição indireta e Sandoval Cardoso
ficaria no lugar de Siqueira.
Com o
desapego de que é possuidor para as coisas terrenas (especialmente públicas),
conforme o metafísico enredo tucano, o secretário Eduardo, candidato desde o
primeiro dia de governo ao lugar do pai, como homem público devoto que é, iria
para o sacrifício: disputaria uma vaga de simples deputado estadual ou federal.
Eduardo, acreditem, já fora avisado que terá que dar a colaboração dele. E ele,
suprema abnegação, já teria se colocado disposto a ir para o sacrifício, se
for para o bem do Estado.
Dizer
mais o quê?
Não vou aqui perder tempo em malhar ferro frio. O governo enfrenta
uma das piores crises desde a criação do Estado. Um escândalo por dia. Não
consegue resolver os problemas que estão sob sua responsabilidade e não presta
contas do que faz com orçamento de R$ 7,9 bilhões (R$ 9,1 bilhões no próximo ano).
Tem
gasto recursos com propaganda de TV nos últimos dias divulgando inauguração de
obras que já foram entregues pelo governo anterior e também daquelas com
recursos federais que não passam pelos cofres do Estado, gastou quase três anos
para licitar dois hospitais em duas das três maiores cidades do Tocantins,
mesmo com os recursos da União em caixa.
Há quase dois meses não consegue dar uma
explicação (nem sequer tenta, dado o insofismável prejuízo aos 55 mil servidores
e ao escancarado duto de desvio de dinheiro público ) sobre o rombo de meio
bilhão de reais do Igeprev. Dizer o quê sobre "resguardar o Estado e firmar um projeto que garanta o futuro e o
bem do Tocantins, como dizem os tucanos de dentro do Palácio, quase que envergonhados.
Ora,
Siqueira tem o legítimo direito de disputar qualquer coisa. Ainda que tenha
sido eleito para governar até o fim do mandato. Foi essa a promessa que fez ao
eleitor. Mas a lei garante o seu direito de disputar novo mandato (no cargo) e
qualquer outro mandato, desde que renuncie. Renunciando, assume o vice que,
também, tem o direito de disputar qualquer cargo. Apesar de ter sido eleito para
ser o vice e assumir quando necessário. Se renunciar, abrindo para Sandoval, e
não se candidatar, é acreditar que fique no ora veja já que no TCE as
negociações apresentam dificuldades. Eduardo também tem o direito de se candidatar a qualquer cargo, desde que atenda a legislação.
Agora,
provocar, deliberadamente, todas essas mudanças para testar uma estratégia
político-partidária é vigarice com o eleitor. Um desrespeito à população do
Estado para manter um projeto de poder que se mostra equivocado e prejudicial ao Estado. Não há outro adjetivo para isto. Algo só imaginável partindo de um
ponto em que não se tenha nada mais a conservar nem com que lutar. Escuridão
total.
Ainda mais com o uso de premissas e falácias o que torna a mentira mais repugnante, um engodo dentro de outro engodo. Uma mentira dentro da outra tangenciando a verdade para aquele que interessa: o cidadão e eleitor, afinal, pela Constituição, todo o poder emana do povo. Ou alguém aí acredita que Eduardo Siqueira
iria disputar uma vaga na Assembléia e deixar Sandoval Cardoso no Palácio,
sendo mandado pelo deputado de Colinas?
E é
uma tática que pode não surtir os resultados esperados, que não midiáticos (aí
talvez o objetivo, desviar o foco das graves denúncias) ultrapassada a
imoralidade e ilegitimidade que carrega com todas as tintas. Quando julgou
aquela ADI 4298 MC/TO, movida pelo próprio PSDB de Siqueira (lá na eleição indireta de
Carlos Gaguim) para o STF, na espécie, os referidos cargos ficaram vagos por
força de decisão da justiça eleitoral. Agora, não!!!! Seria por mero capricho
eleitoral dos detentores dos cargos, mera jogatina com a representação popular.
E o STF consignou que a regra da simetria (com o artigo 81 da CF) não pode ser
aplicada de forma imotivada ou arbitrária. É uma exceção não a regra nos
regimes democráticos.
Ainda que caiba à Assembléia, na forma administrativa,
realizar a eleição indireta, para atender o artigo 39 da Constituição do
Tocantins, no caso da vacância nos cargos de governador e vice. Ah: a exemplo de campanhas anteriores, os tucanos já estão por aí nas
ruas, a um ano das eleições, distribuindo panfletos apócrifos contra
adversários. Tem, portanto, sentido o ardil. Escuridão total!!!!