Caros, depois de quatro dias, retomo o ponto. Ainda um pouco
estropiado pelos quatro dias de caminhada na minha romaria anual ao santuário
do Senhor do Bonfim. Depois de 243 km vencidos, as bolhas dos pés dão seus
últimos suspiros. Aliás, é sempre da mesma forma, durante quatro dias, as
bolhas nos desafiam. Na verdade, nos levam àquele diálogo onde se debate o
fator determinante: a mente ou o corpo. Como se o corpo não dependesse dos
comandos da mente e esta não necessitasse de um corpo para exercê-lo. As bolhas
provocam a mente, atacando o corpo. Esse dualismo nos obriga a um exercício
diário de resistência diante de apenas
duas opções: continuar ou desistir.
Nesta sexta, é a vez dos políticos aterrissarem em Bonfim,
como o fazem todos os anos. Especialmente em ano eleitoral. Motivos óbvios:
cerca de 100 mil pessoas se aglomeram no
Santuário para a missa do romeiro. Votos, votos, votos. Não de fé, mas de urna.
E aí rememoro cada passo que dei (e que dou todos os anos) em cada um dos 243
km de Palmas a Bonfim.
Nos últimos cinco anos,
nenhuma alteração nos buracos da rodovia, no escandaloso estado dos acostamentos
(ou na contínua falta dele), nenhuma sinalização (vertical e horizontal) e o rotineiro desrespeito de
motoristas aos pedestres. Não vi
qualquer situação que indicasse presença física de governos no caminho. A
rodovia está em estado lamentável, buracos mal recuperados expõe a qualidade do
material utilizado: cascalho ao invés de brita. Lama, ao invés de asfalto. O
dinheiro, por certo, foi verdadeiro.
Mas os políticos hoje farão novas promessas aos
romeiros. Compromisso de mudança ainda
que o método empregado indique ser uma mudança que não sai do mesmo lugar. Como
se saísse de um ponto e fizesse uma curvatura de 360º, retornando ao marco zero
de onde se partiu. Muitos políticos deveriam caminhar de Palmas a Bonfim. Talvez, assim, pudessem ter noção do que fazem com o dinheiro público e, por certo, fazer da peregrinação uma penitência. Seria um resgate, pelo menos, moral, ainda que com o uso da fé e da religião.