Maria José Dantas de Morais (ou Dona Zezé) passou os 70 anos de vida (a serem completados no próximo dia 10 de outubro) na roça, uma pequena propriedade distante 25 km de estrada de terra de Sucupira no Sul do Estado. Na sua rotina de cuidar da criação e das plantações, mandou os filhos para a cidade estudar. A saída de muitos por estes sertões sem saídas.

Resultado: não teve tempo para, ela própria, estudar. Ainda que tenha, com esforço pessoal maior que as oportunidades que lhe foram dadas (ou que adquiriu com a própria luta) conseguido aprender um pouco de leitura, escrita e conta. O suficiente para não ser passada para trás ou não tomar o remédio errado.

Cansada da solidão da roça, após sete décadas, decidiu com o companheiro de vida, José Bernardino Morais (ou Moraiszim) migrar para a cidade. Uma decisão impulsionada mais pela lógica e razão que coração. Idosos, na cidade teriam mais chances com proximidade de hospitais, farmácias e amigos para conversar, coisa que só podiam na roça fazer com bois, vacas, galinhas, cães e mutuns, tratados de uma forma a dar exemplo a muito ambientalista por aí.

Mas Dona Zezê, na verdade, não queria abandonar a roça. Buscava apenas melhor qualidade de vida necessária a idosos. Queria ter um pé na rua e outro no mato. Precisava para isto, entretanto, de condução. Dinheiro poderia juntar uns trocados vendendo um "gadim". Mas e a Carteira de Habilitação? Além de ter medo de Ronaldo (um policial militar da cidade) Dona Zezé o via cumprindo o seu papel de pegar motoristas inabilitados mesmo que indo e vindo da roça para vender galinha, porco e requeijão no comércio.

Dona Zezé convenceu uma filha e as duas estudaram juntas, com as dificuldades inerentes à idade, deficiência de leitura e tudo, as normas de trânsito. Não passou na primeira tentativa, mas não desistiu. Dona Zezé recebeu esta semana sua Carteira Nacional de Habilitação. Agora os marmanjos de sua idade e vizinhos de propriedade, também sem CNH e sem instrução,  que ironizavam-na dizendo que não conseguiria aprovação porque velho não aprende mais, devem estar lamentando suas apostas mal-sucedidas. Pior: continuarão a ter medo do Orlando. Ou seja: se não deixarem a zona de conforto, não terão conforto.

E nas cidades (como Palmas) muito marmanjão baladeiro de menos de 20 anos, "pegadô" como se auto-denominam,  matando gente nas ruas, dirigindo veículos dos pais (com o consentimento ou omissão deles) sem a devida habilitação. E, claro, sem preocuparem-se se alcançarão os 70 anos de Dona Zezé que, até aqui, não se arvorava em dirigir veículo sem a devida CNH. Mesmo tendo recursos para comprar um automóvel e dele necessitando para sua rotina diária entre a roça e a cidade onde a fiscalização de Ronaldo somente agora chegou.

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