Há um movimento merecedor de estudos na economia brasileira. O crescimento da produção de grãos (dados IBGE/Conab) registrou índice de 353,52% (de 1.997 a 2012) - 7,12%/ano - com a produção de 160 milhões de toneladas (2012). Uso o indicador apenas como mero referencial relativo para efeito de raciocínio analítico. O Brasil é o segundo maior produtor e o primeiro maior exportador de soja do planeta, responsável por 41% de toda a produção mundial. O país é, portanto, como se fosse uma grande fazendona de soja. Imposto zero na exportação. Mas tributada no transporte e processamento internos. Contradição: mais cara no país que no exterior. Mas sigamos.
O problema é que a commoditie não faz parte do cardápio da população brasileira que, seguramente, prefere um prato mais prosaico: arroz, feijão e carne. E aqui a situação pega. Nos últimos dias o preço da arroba do boi (15kg) saltou no Tocantis, por exemplo, para R$ 100,00 (com pequena variação para baixo ou para cima). O reajuste, pelas leis de mercado, vai parar no quilo de carne no açougue da esquina pela elementar supremacia do trabalho morto sobre o trabalho vivo que tanto combateu Marx. Ainda que, no caso de produto de primeira necessidade, como comida, o valor de troca, numa abstração, não pudesse superar o valor de uso. E mesmo por isso, o uso impulsionasse, como ocorre, o valor da troca.
Estamos em plena época de pastos bons, de gado gordo, portanto. Se a esta altura do ano e depois de cinco meses de chuva, encontra-se a arroba neste preço, não é necessário ser economista para projetar um preço ainda maior a partir do segundo semestre quando a oferta do boi gordo cai naturalmente, em função, justamente, da falta de pastos que hoje se tem em abundância. E tome mais preços e,lógico, projeção de influência nos índices inflacionários.
Retomando o eixo, na contrapartida daquele crescimento da produção de soja, a carne não seguiu a boiada. Dai, oferta e procura. De 1.990 a 2009, o rebanho brasileiro cresceu apenas 71,70% o que dá uma média anual de 7,17%. Tomo este dado porque não se consome soja in natura. E segue uma tendência. Como registram dados do IBGE/Conab, de 1996 a 2006, a taxa de crescimento da produção de carne no país teve viés de baixa. Ela ficou negativa no período em tradicionais regiões produtoras como a região Sul (-1,15%) e Sudeste (-054%). E parco crescimento na região Norte (6,4%), Nordeste (1,04%) e Centro -oeste (1,26%).
De outro modo, na contramão da produção negativa, somente de 2000 a 2012 o consumo de carne no Brasil cresceu 27% e as exportações do produto 35%, com previsão de que alcance o patamar de 20% entre 2011 e 2022 (AGE/Mapa). Destas exportações aí, 82,6% são carne in natura e apenas 17% de carne industrializada (IBGE/Secex/MDIUC). Ou seja, a carne ainda exporta empregos. Daí, a prevalecer a progressão, estamos próximo da inversão da curva que hoje registra que apenas 18% da produção de carne são exportados. Para se ter uma idéia do que isto significa, em 2012 o PIB do agronegócio foi de US$ 507 bilhões (22,46% do total).Destes, US$ 149,5 bilhões (29,5%) tiveram origem na pecuária (CPEA/USP/Bacen).
Como se nota, o produtor de carne está migrando para a produção de soja, fato claramente identificado, não só na produção como no consumo. Evidentemente impulsionado pela política governamental. Há uma luta sendo travada entre grandes frigoríficos que querem exportar carne industrializada e os produtores que comercializam boi vivo (em pé) para os mercados internacionais. A soja segue livre. Ambas, entretanto, concorrem, à sua medida, para a falta do produto. Enquanto nas classes D/E registra-se um aumento de consumo da ordem dde 22% (1.996/2006)na classe C chega-se a 24% de aumento do consumo. Conclusão óbvia: os pobres comem menos carne.
Como ao consumidor não é dado interferir no preço (a não ser que deixe de comprar o produto) ele fica sujeito às leis de mercado, mas num referencial de alta. Resumindo: as leis de mercado, neste aspecto, são livres para...o mercado. A prevalecer a atual tendência e as leis deste mercado, portanto, o produto ficará, cada vez, mais em falta e, por consequência, procura maior que oferta. Daqui a pouco teremos que fazer churrasco de carne de soja, se é que já não o fazem.