Não foi uma semana de posicionamentos felizes do governador Wanderlei Barbosa.

Mais pelo que denunciam suas vocalizações do que pelas consequências práticas de suas movimentações retóricas.

Depois de optar pelos fogos da iluminação de Natal à diplomação do prefeito e vereadores da Capital do Estado (a menos de 500m da “presepada”  - estratagema defendido por muita gente -  o Governador fez uma declaração à TV Anhanguera/Rede Globo. Disse:

"Tranquilo, isso acontece em outros lugares, aconteceu inclusive aqui em Palmas. Aqui também o município de Palmas tem a PEC do Apego. Porque eu não tenho esse apego, eu tenho é preocupação que as vezes a gente desapega e entrega o mandato para alguém e ele cria uma série de problemas para nós", disse o governador.

A conexão direta com regime de exceção é inevitável. Tanto quanto aquilo que induz o tempo verbal empregado. Ninguém deve apropriar-se de direito de outrem (ou dever de Estado) pretextando cuidar melhor, subordinando-o a seus referenciais. Não creito que Wanderlei pense realmente o que disse de forma tão primitiva quanto primária.

E pior: se se aponta o equívoco, dirão que é pensamento adversário ao governo. Ainda que o pensamento fosse contrário à espécie de pensamento colocado. E não propriamente ao governo.

Referia-se à PEC 02/24 (que encaminhou com pedido de urgência aos deputados) para que pudesse se ausentar do Estado e do país até 15 dias sem transferir o cargo.

É necessário rememorar que isto aí já está na Constituição Federal desde 1.988. E no Estado, nenhum dos 12 governadores que passaram pelo Palácio Araguaia ou qualquer deputado das 10 legislaturas ocuparam-se do expediente para incluí-lo na Constituição estadual. A CF tem precedência.

Alterar esses 15 dias é que seria novidade. Mesmo ilegal. Wanderlei, até agora, pode ficar os 15 dias fora do Estado e do país sem passar o governo a ninguém. Sem precisar de autorização dos deputados. É a Constituição.

Mas vivenciamos no Legislativo e no Estado tempos de Amélio Cayres III, o Grande. Tudo é possível.

E que se note: Mauro Carlesse conviveu diariamente com a oposição de Wanderlei que sentia-se desprezado pelo Governador no cargo de vice. Wanderlei chegou a reunir os deputados pelo impeachment de Carlesse,lembram-se?

Mas é competência do Executivo mandar e do Legislativo aprovar emendas à Constituição. Desde que não contrarie a CF. O demais, é mero exercício político de competência.

Chama a atenção, entretanto, a declaração de justificação da PEC pelo próprio Chefe do Executivo: não é apego ao cargo, mas preocupação.

Sem vir acompanhada de qualquer fato que a fundamente, a fala descamba para injúria e difamação do vice, Laurez Moreira, primeiro na linha de sucessão e que já ocupou o governo em duas viagens internacionais de Wanderlei.

Ou até mesmo do presidente do Legislativo, Amélio Cayres (segundo, que assumiu o cargo em junho) ou da presidente do TJ, Etelvina Sampaio (terceira na linha).

O emprego do tempo verbal  "as vezes a gente desapega e entrega o mandato para alguém e ele cria uma série de problemas para nós"  denota a existência de fatos pretéritos a justificar-lhes o emprego.

Por outro lado, o cargo de vice não está ali para servir ao governador. E sim ao Estado. É uma imposição constitucional. Inclusive as suas competências. Tentativas de negá-la com subterfúgios é mero expediente despótico.

Se o vice pisar na bola no exercício do cargo, a Justiça é que deve corrigí-lo. E os eleitores escrutiná-lo nas urnas.

O Governador foi tão infeliz que deu razão aos seus adversários de que as tentativas dos deputados comandados por Amélio Cayres III, o Grande, de burlarem a Constituição com a dupla eleição (para eleger seu filho Leo presidente) e a terceira eleição do aliado Amélio Cayres, fossem também para evitar uma série de problemas.

Laurez, que é advogado, poderia lembrar a CF ao Governo. Mas preferiu banquetear-se em silêncio, sem qualquer custo político,com a derrapada política de Wanderlei que passa recibo e emite sinais de descontrole da situação.

Afinal, só tenta controlar algo de que dele não detenha o controle.

Deixe seu comentário:

Últimas notícias

Destaque

Há, é indubitável, uma distensão na base de Wanderlei Barbosa. A escolha Amélio Cayres, tudo indica, tem exigido custo polí...

O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de Palmas determinou o cumprimento de quebra de sigilo bancário do ex-vereador de Porto Nacional, Tony Andrade, e de Fra...

Nos dias em que o Tribunal de Justiça (cinco desembargadores) decidem sobre habeas corpus impetrado pela defesa do ex-governador Mauro Carlesse, é vazada a den...