A discussão nas redes sociais sobre custos de integrantes da viagem do governador Wanderlei Barbosa à Suíça nessa segunda-feira (por 10 dias) é o acessório substituindo o principal.

É, portanto, paradoxalmente, útil ao governo, empresários e ongueiros rentistas na boiada que deixa passar.

Os “influenciadores”   enxergam o calcanhar de Aquiles (para derrubar Wanderlei, supõe-se pela carga crítica) em diárias e passagens aéreas do que no contrato de R$ 2,5 bilhões do sequestro de carbono com a Mercúria Energy Group (empresa suíça) que justificaria a missão.

Até os custos da "excursão" serão divididos com a própria empresa. Aliás, nem mesmo é a maior comitiva de governos ao exterior. Já passaram pelo Palácio governadores que exageram mais e por menor finalidade. Ou justificativa nenhuma.

Vamos ao óbvio: a Mercúria é uma trading que vende carbono sequestrado a outras empresas multinacionais que emitem carbono na sua atividade industrial. E continuam emitindo com matrizes energéticas conhecidas.

A Mercuria contratou com o governo do Tocantins comprar 50 milhões de toneladas  de carbono (estocadas pelo Estado) para revender a empresas que não estão nem aí com alterações climáticas e a emissão de carbono. E promete entregar ao Palácio Araguaia R$ 2,5 bilhões em seis anos.

Como é lógico pelos fatores da equação, governo/Mercúria não estariam contribuindo para a redução da emissão de gás carbônico. E sim autorizando os grandes conglomerados a continuarem poluindo, jogando-o na atmosfera.

Desde que tenham a nota promissória de que estariam pagando (no Tocantins, por exemplo) o sequestro de carbono, preservando as áreas equivalentes.

No Brasil esse tipo de compensação foi mandado para a lata de lixo em 2012. No Estado resultou no fenomenal desmatamento a olhos vistos.

O empresário comprava terra lá na casa do chapéu e tinha, assim, autorização para desmatar no Tocantins. O avanço da soja sobre o cerrado é indiscutível.

O caso governo do Tocantins/Mercuria repete o expediente já ilegal. De outro modo: continuariam os empresários que vão pagar pela preservação jogando gás carbonico (CO2) na atmosfera.

Não é só contraditório, mas um paradoxo às intenções propagadas pela Secretaria do Meio Ambiente estadual e ongueiros tradicionais comerciantes do setor.

Ora, preservar 35% das propriedades já é uma obrigação legal. Governos não tem autonomia sobre áreas particulares acima disso. Para reduzir ou aumentar.

E tem o marco legal do Código Florestal. Desmatamentos ilegais tem a fiscalização do MPE, MPF, Ibama, ICMBIO, Ministério do Meio Ambiente.

E o que o Projeto Mercúria/governo do Tocantins faz é tentar entregar não só essa área já protegida, mas todo o cerrado e floresta do Estado para ser comercializada por uma trading internacional.

A moeda: R$ 2,5 bilhões a serem depositados em um fundo criado ilegalmente pelos deputados estaduais (denominada Sociedade de Projetos Específicos/Tocantins Carbono) – fora do alcance da fiscalização do Tribunal de Contas – a ser gerida pela própria Mercuria, Tocantins Parceria (uma S/A) e o governo.

E o problema são as passagens aéreas, diárias e cônjuges de uma dúzia de agentes públicos à Suíça.

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