A reação dos governistas (e seus tributários) às declarações do ex-governador Marcelo Miranda (publicadas com exclusividade por este blog ontem) é tudo que uma oposição gostaria que ocorresse: o não discernimento do principal do acessório.
A redução fenomenológica de Marcelo Miranda - levado ao Palácio Araguaia por três eleições legítimas - fundamentada nas duas cassações e processos (ainda não conclusos) na Justiça, repete o equívoco de percepção que se deu em 2014 no establishment político quando expediente idêntico operou resultado inverso.
O empirismo da apreensão (não raro passional e partidária) das acusações formais contra Marcelo prejudicou a percepção do fenômeno. Um evento em larga medida afetado pelas relações entre o sujeito (Marcelo) e o objeto (eleitores) e que é impulsionado pelo vazio demográfico e de liderança no Estado onde a informação, em grande monta, não penetra e quando se dá é com atraso.
No vácuo, prevalece a relação pessoal (e passional) dos afetos. Independentemente de objeções de conduta administrativa e política. Situação diretamente proporcional à ação do Estado/governo (nas deficiências no setor educacional) e à ineficiência de seus opositores em plasmarem a mensagem das acusações na Justiça contra o ex-governador no consciente popular.
Não seria, com efeito, a melhor tática de uma estratégia que pudesse ser planejada para manutenção de poder político, optar por combater o meio para refutar a mensagem. E a mensagem vocalizada por Marcelo é insofismável. Tanto quanto o passivo que ele carrega. E o que o concede fundamento são os fatos.
Apesar da cassação de um governador por duas vezes e de sua prisão provisória por metade de um ano, o MDB saiu das urnas com 23 prefeitos e 221 vereadores e em oposição ao governo. Mais que os 20 de 2012 (da primeira cassação) e apenas dois a menos que os 25 prefeitos de 2016 (dois anos antes da segunda cassação e quando o MDB governava o Estado).
E tem novas lideranças como o próprio senador Eduardo Gomes e o deputado Elenil da Penha, um grande puxador de votos que deu um susto em Ronaldo Dimas no segundo maior colégio eleitoral do Estado. Pode encarnar uma nova geração no partido e atrair eleitores, especialmente do Bico do Papagaio. Tem a aparência física (e de trato e comunicação/linguajar) da maioria pobre do Estado. Pode encarnar o gente como a gente.
Como se nota, há um vazio entre a compreensão dos problemas jurídicos de Marcelo Miranda com a sua figura e o partido. De outro modo: entre as lideranças formadoras de opinião, redes sociais e o eleitor. Sem juizo de mérito.
E que seus críticos assumiriam o risco de, ao escolherem o combate ad hominem na forma como se dá, levar (até por desconhecimento do fato) as pessoas a dele compadecerem como um injustiçado que fosse novamente por outras forças políticas. Nada diferente das outras eleições nas quais logrou êxito.
Vide a eleição em 2006 em oposição a Siqueira Campos (contra supostas intromissões do ex-governador Siqueira no seu governo) e a de 2014, quando conseguiu incutir na população que tivesse sido injustiçado, tanto na cassação (2009) quanto na eleição ao Senado em 2010, candidato por força de uma decisão heterodoxa do Tribunal Regional Eleitoral quando estava indiscutivelmente inelegível.