Já não há mais dúvidas acerca da segunda onda da Covid-19 no Estado. As autoridades públicas ainda tergiversam sobre os indicadores. De idêntica forma se colocaram nos primeiros meses da pandemia: o Estado estaria imune à contaminação nacional. E deu no que deu: 1.151 vidas se foram até ontem.

Na verdade, a Covid não era. Ainda é. Como o racismo negado no país. Para a Covid, aguarda-se vacina. Já o racismo só se vai com a extirpação da má consciência na sociedade. A mesma que leva a população a negar o vírus e sair por aí contaminando aqueles que carregam a boa consciência.

No Estado, as mais de mil mortes consequentes (ou inconsequentes) é  como se seis Boeing 737-300 tivessem caído no Estado em sete meses matando todos os seus passageiros. É quase igual o número de mortes de Covid-19 (desde o 1º óbito em abril) às 1.156 que morreram de câncer em todo o ano de 2019. Coladinho nos 1.265 óbitos por homicídios, suicídios e acidentes registrados durante o ano passado.

A negação, assim, ainda que afirmativa, é parte do problema e não da solução. O liberou geral do comércio, bares e restaurantes proporcionou a elevação do índice de contaminação no Estado ontem para 5.061/100 mil habitantes contra os 2.896,8/100 mil registrados no país. Era 4.714/100 mil há um mês e 4.157/100 mil em 24 de setembro.

É inegável que a proporção do crescimento da contaminação não é acompanhada do aumento dos óbitos que seguem com aceleração de sentido inverso, demonstrando, de alguma forma, que o sistema público de saúde tem conseguido entender e combater a pandemia com êxito não ignorado.

O índice de isolamento social no Estado, no mesmo dia, entretanto, ameaça esta circunstancial estabilidade pela insuficiência de estrutura da rede pública. Só ontem haviam 44 em UTIs e outros 56 em leitos clínicos.

Estavam nas ruas nada menos que 70% da população. O índice de isolamento social no Estado era de 33,4%. O pior do país. Se considerarmos o isolamento social dos últimos dias com o aumento dos casos, a conclusão é óbvia.

Outro recorte relevante está na proporção de exames e casos confirmados. Nas últimas semanas, à redução do número de contaminados identificados seguiu uma diminuição do número de exames. Mas como a proporção de confirmados/testes se mantém, a equação sugere que haveria uma subnotificação que estaria dando suporte ao liberou geral.

O governo já informou que vai manter a estrutura de atendimento público. Mas não é o suficiente para um Estado com 1 milhão e 400 mil pessoas dependentes do sistema público (apenas cerca de 10% da população tem planos de saúde).

Os 429 leitos que o governo diz ter disponível nos 18 hospitais regionais não abarcam essa massa de possíveis contaminados, submetidos que estão ao risco da Covid-19 pela não compreensão de sua gravidade e descumprimento de regras básicas de prevenção.

De sorte que a não conscientização de que as outras pessoas que cumprem as determinações dos órgãos sanitários tem também o seu direito a não serem contaminadas é em larga medida a mesma régua que mede o desrespeito racial. Ambos são provenientes da ignorância que ainda impulsiona parcela do atraso da sociedade brasileira.

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