O deputado Ricardo Ayres (Republicanos) requereu à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados sessão solene em homenagem ao ex-governador Siqueira Campos.
Não que Siqueira não seja digno de todas as homenagens, foi um grande líder e lutou pela criação do Estado. Foi deputado federal ali no plenário Palácio Ulysses Guimarães por cerca de cinco mandatos, sem passar pela Assembléia de Goiás. Da Câmara de Vereadores de um dos menores municípios (e quase insignificante, então) do ex-Norte foi direto para o Congresso Nacional.
Seu problema é com a medida da sua participação no processo histórico, embolando determinismo histórico e livre arbítrio, formando disso uma massa disforme que o siqueirismo (como o bolsonarismo) levou adiante como dentro da conformidade. Uma deformação não só dialética ou retórica.
Ricardo Ayres dá um cavalo de pau na sua própria biografia. Entrou na política pela porta do movimento estudantil que satanizava Siqueira Campos, algumas vezes de forma até injusta. Defende, agora, no requerimento que Siqueira tinha a habilidade de unir pessoas.
Reconheceu que errou lá atrás (como se deduz) e reconhecer equívocos é um mérito e não demérito. Ainda que não dissesse com todas as letras que errava quando criticava Siqueira.
De forma que no requerimeito à Cãmara, destacaria o compromisso inabalável de Siqueira com sua gente, desde o então Norte goiano, foi o deputado um dos primeiros a defender a mudança de nome de prédios públicos para Siqueira Campos.
O pedido sucede aprovação num só dia do PL 295/23 (na quinta) alterando para Palácio Araguaia Governador José Wilson Siqueira Campos a sede do Executivo estadual. Divulga-se que o projeto é de autoria da unanimidade dos 24 deputados.
Obviamente uma mudança – a parlamentar - que deveria ser proposta (e consentida) pelo “dono” da casa, o Executivo estadual cujo Palácio é a sede. Da mesma forma que o Executivo não poderia retirar o João D’Abreu da sede do Legislativo. Poderes constitucionalmente independentes.
Uma pressão daquelas impensáveis para o cidadão comum mas produto dos políticos espertos. O Governador não teria, do ponto de vista político, outra conduta que não sancionar o projeto. Ainda que, sob os princípios constitucionais, o PL carregasse vício de origem.
E aí os afetos misturando-se com religião e esperteza política. Se está a um ano das eleições e o siqueirismo aproveita-se, desse servilismo, para emergir com toda a carga. Não se fala num museu. Mas em trocar o nome do Palácio.
Uma decisão política e não para preservar histórias. Qualquer governador ali no Palácio passaria, despachando, agora, a considerar-se administrador de um palácio que teria um dono: o seu construtor. "Siqueira tá olhando...""
E os inocentes úteis (outros não tão inocentes, mas úteis) seguem o féretro, a romaria e a liturgia siqueirista, na guinada que oportunizam ao siqueirismo aproveitar-se politicamente.
O Siqueirismo que não tem, hoje, como é público e as urnas o revelam indiscutivelmente, lideranças substanciais, não tem votos. Mas não é bobo, agarra-se à oportunidade de ouro para manter-se como a corrente política responsável pela criação do Estado.
Como se nota, a decisão dos deputados sem o aval público do Palácio (o governo pode até ter incentivado, e aí outra estratégia discutível porque então deveria ter encaminhado o projeto), não é apenas uma questão de “consulta” para sobrepor-se a competências.
No Palácio Araguaia, por exemplo, senta cadeira circunstancialmente o governador Wanderlei Barbosa que viu o pai, Fenelon Barbosa, ser triturado na construção de Palmas.
Fenelon entregou a cidade onde era prefeito, Taquarussu do Porto, para Siqueira implantar a Capital, transformando um município autônomo (emancipado no governo de Goiás, Henrique Santillo) para virar distrito.
Em troca, Siqueira retirou-lhe o FPM da Capital (uma inconstitucionalidade gritante) e avançou o braço sobre os imóveis da cidade que, por lógica, deveriam ser administrados pela Prefeitura. Fenelon negou-se,certo modo, a representar o papel de marionete.
Ficou na dele, sem vestir a camisa siqueirista como prefeitos que o sucederam colocaram sem subterfúgios ou disfarces. Tinha uma família que fazia política antes de Siqueira em Porto Nacional.
Teve que ficar de braços cruzados porque os recursos da prefeitura (os deputados aprovaram de forma inconstitucional um convênio neste sentido) eram administrado por Siqueira no governo!
Ou seja, Fenelon foi proibido de fazer obras e, claro, aumentar seu ativo político. Sem obras. O ativo, assim, era de Siqueira que o transferiu a Eduardo, o prefeito que teve a grana para fazer as obras.
Isto depois de negociações com Moisés Avelino que sucedeu Siqueira e viu a ilegalidade de ficar com recursos da prefeitura de Palmas. Mas aí o prefeito já era Eduardo. Fenelon tinha ficado para trás com as mãos abanando.
Tudo muito claro e que muita gente deixa para trás como se fosse a coisa mais natural do mundo um governo apropriar-se de verbas municipais constitucionais. Ainda mais de uma capital em construção e que tinha um prefeito eleito legitimamente.
A apropriação por Siqueira do FPM terminou na Justiça. Siqueira, na prática, retirava dinheiro que era da cidade, para sua infraestrutura, e fazia o que bem entendia. Assumia a autonomia do município. A cidade, como os pioneiros são testemunhas, só teve infra já com o filho de Siqueira, Eduardo, a administrando.
E o siqueirismo ainda tentou negá-lo amplificando ser Eduardo Siqueira Campos (não sem o auxílio do servilismo siqueirista) o primeiro prefeito eleito de Palmas.
Fenelon, assim, teria sido um prefeito eleito de forma ilegítima. E não por um trabalho do ex-prefeito de Porto, Euvaldo Tomaz (um dos maiores líderes e altruístas do Estado) e de dona Maria Rosa (sua companheira), garimpando votos em Canela, Taquarussu, Mangues, Santa Luzia, Buritirana, Xupé, São João e que tais.
Ainda assim, Capital criada em seu município, um vaqueiro, como lhes perspegavam os siqueiristas. Uma inverdade que encobria outra injustiça que segue até hoje.
Ora, LA, porque fala isso agora depois que Siqueira se foi? Conto essa história aqui (que deveria ser contada pelos políticos da criação do Estado) desde sempre, para contrariedade de Siqueira e dos siqueiristas. Uns democratas que respeitam a história, outros nem tanto.. Realizei cobertura como jornalista, desse massacre do siqueirismo a Fenelon.
E que me custou muitos inimigos que eram, na verdade, adversários da história. E defensores da criação de uma lenda, tal como se dá na morte de Siqueira, que seria o ato final.
Retornando a Ricardo Ayres e sua origem estudantil: seria interessante o parlamentar dar uma passada de olhos no primeiro Estatuto Social da Casa do Estudante do Norte Goiano, fundada em Pedro Afonso em 1.959 (uma década antes da chegada de Siqueira a Colinas) sob a liderança do Professor Rui Rodrigues (ex-secretário de Educação de Goiás e depois Tocantins). E nos seus princípios.
Ou mesmo na criação central da Cenog em Goiânia (GO) pelos estudantes nortenses em janeiro de 1.963. E cotejá-los ou mesmo ponderá-los sobre a ação de Siqueira na história do Estado.